domingo, 29 de maio de 2011

Ofensa

Ela foi embora e levou com ela qualquer vestígio de já ter estado aqui algum dia. O livro esquecido entre os meus numa prateleira da sala, a camiseta velha que usava como pijama nos dias mais frios, o guarda-chuva colorido que comprou e largou num canto, nunca se preocupou em levar embora. Finalmente, levou. Não me atirou em total surpresa, o "não dá mais" de uma noite atrás já avisava que todas essas coisinhas banais deixariam a minha casa em algum momento. Deixaram com pressa. Ela foi com pressa. Com a pressa de quem sabe que já jogou tempo demais fora comigo e que a vida nova deveria começar o quanto antes, sem desperdício adicional. Não que a pressa me ofenda. Ela ter se cansado de mim também não me ofende, sequer fere qualquer conceito empoeirado que eu tenha em relação ao amor, à vida, a sei lá. Aceito o passado. Entendo que há inércias impossíveis de manter. Não me ofendo. Nem com a liberdade alheia, nem com as possibilidades alheias, nem com a minha solidão. Choro em silêncio, apenas, sabendo que fui o melhor que podia e que não errei. Mais do que de vez em quando, há pouco que se pode fazer.