segunda-feira, 13 de junho de 2011

O romance

Com o sol de um mês qualquer, chegou o dia em que parar com a autopena pareceu menos impossível. Então, ela parou. Como é com um bebê que nasce, tudo parecia novo, muito parecia ausente de sentido, o mundo era uma descoberta a acontecer.

Peraí. Era essa a grande novidade? Não parecia tão mais fácil viver assim do que vinha sendo viver escondida sob aquele peso feio do que já foi – o fim, o enjoo unilateral.

O fim. Recomeços fazem as articulações doer.

Foi então que bateram na porta. Três batidas rápidas, que sugeriam ou intimidade ou pressa ou algum tipo de violência. De todas, era melhor fugir por enquanto. "Devagar, devagar", dizia mentalmente, em forma de mantra. "Que merda", dizia com todo o corpo, em voz alta.

Eram cinco da tarde. Fosse em plena madrugada, um viva. Mas há pouca poesia em um alguém misterioso batendo na sua porta às cinco da tarde de uma terça-feira. Melhor ignorar. O melhor era ignorar. Ignorar. Então, a voz.

"Fê, eu sei que você está aí".

“Que merda”, repetiu. Deixou o mantra pra lá.