sábado, 27 de junho de 2009

Escape

Ambos diziam estar bem, mas, enquanto um se perdia em espirros, o outro dava vida a um violento ataque de tosse. Tudo no passeio público, enquanto, de fato, parecia-se fazer ficar bem.
Era como se aqueles dois corpos, donos de sentimentos revirados, procurassem uma forma de externar toda a dor que se mantinha escondida sob a cobertura falsa de força e otimismo, a dor que, acreditava-se, era melhor fingir que não existia.
Para, em ilusão, evitá-la ou diminui-la, não? Sim. A lógica de quem sofre é sempre confusa.
Não há parâmetros além dos que imploram proteção, PROTEÇÃO, proteção dos perigos do mundo, de estar sozinho na cama espaçosa, de estar sozinho. Por horas, ou dias, semanas, meses, a proteção vai faltar, e as cores todas parecerão um pouco mais opacas, e o tempo mais gelado ou mais quente, o céu caindo, os barulhos mais altos, os ouvidos e os braços menos abertos. Não há grande incremento frente à dor da antecipada despedida incerta e do "a gente se fala" que pouco ou nada diz sobre o futuro triste que se avisa com um grito de desespero ou um soluço preso no fundo da garganta.
Quando as contas chegam ao pavoroso fim, da dúvida, não escapa vida. Do amor, não escapa frio. Do medo, da lágrima e do lançamento de cabeça em um louco precipício, sequer escapamos eu ou você – ó babe.