segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Esperança

─, e só de pensar em não ter mais você eu sinto o ar faltando, e é tão triste, tão tão triste, porque é tudo muito complicado, não basta ser como a gente é: não basta, eu sei que não basta.

Parou para tomar um ar, depois de um discurso incômodo e sem pontos, enquanto o outro só ouvia - bem de perto, via-se, com os olhos molhados.

─ O que você quer fazer?

Ele não falou. Tinha a impressão de que algo estava para morrer, e que dessa vez não haveria truque capaz de mudar aquele destino injusto e dolorido.

─ Fala comigo. Eu não sei fazer isso sozinho.

Mas não existiam palavras. E, mesmo que se criassem novas, não teriam intensidade suficiente para comunicar o que havia de invisível entre aqueles dois corpos marcados, cheios de defeitos que faziam o trivial um pouco menos feliz a cada dia.

─ E se nada mudar? A gente pode tentar fazer com que nada mude, pode fugir, eu perco o sono e rolo na cama sentindo frio e calor e náusea e medo de que tudo mude, não pode, não, não assim, fala, diz que tem um jeito, que a gente esquece, e desenha tudo de novo, mais bonito, com mais cor e toma cuidado, muito cuidado, diz, vai; como naquele livro que a gente leu, "pede-se vida", deixa eu tentar, deixa eu tentar. Diz que nada precisa mudar.

Mas tudo já tinha mudado. Foi aí que a primeira das lágrimas caiu.